9 de abril de 2011

recado para B.

"Pode-se matar tudo, menos a nostalgia, que levamos na cor dos nossos olhos (...)"
(Cortázar, em Jogo da Amarelinha)

De um cartão postal, da amiga do B., direto de Paris, me remeti ao que muito não fazia: mandar cartas ou deixar bilhetes escondidos. Está aí um gesto que sempre apreciei. Só que de uns tempos pra cá, fui deixando isso de lado, assim mesmo, no gerúndio. Mas confesso que sinto falta da doação sem cobrar nada. Porque é isso, sentimentos em guardanapos ou papéis cortados da última folha do caderno têm custo zero, a existência daquele que recebe vale para quem dá.

B. recebeu o postal da amiga e de lá pra cá, só penso em enviar uma carta ou cartão. Preguiçosa de carteirinha, quase presidenta do clube dos "deixa a vida me levar", fico sujeita a abandonar a ideia de mandar um: alô, alô, estou em Santos, é outono, meu amigo, já até comecei a tirar alguns casacos do armário pra lavar, quase faz frio; e você, como está? Em meia dúzia de palavras um encontro à distância, breve surpresa para quem está longe.

Então, comecei a pensar que mais de uma pessoa poderia receber o meu cartão, carta ou qualquer agrado em grafia minha. Ôxe, se sofro pra passar por todas as etapas (rascunhar o afeto, ir aos Correios etc) e mandar uma só carta para uma pessoa, imagina duas, três. Lembro que hoje não vai dar tempo e me afundo na pré-disposição. Segunda-feira, farei com certeza, juro pra mim.  Só não me dou por satisfeita, com a embromação.

Olho para o lado, vejo o cartão da amiga do B., penso na Ci, lá em Berlim, na minha prima do Piauí. Tá bom, hoje é sábado, sem falta, depois de amanhã. Prometo, de novo, sem jurar.

Paro de pensar no que estou adiando, pego um post-it. Colo na geladeira, escrevo assim: B., hoje, fazemos um ano de casa. Eu te amo!

E venço a primeira fase de palavras não remetidas.

Ps.: B. é o Bryan, para quem conhece.
Bryan é um dos grandes responsáveis pelas minhas palavras neste blog e outras que andam surgindo por aí.
Pois, todos os dias, me ensina algo diferente, que me enche os olhos de poesia.


6 comentários:

  1. tai Day, o melhor uso pros post-its! se eles servem pra nos lembrar das coisas, tem coisa melhor pra lembrar do que o fato de sermos amados?
    esses dias mesmo deixei um pra Raquel junto com o tabule que deixei na geladeira pra ela, aqui na nossa casa, em Paris.

    e o cartao foi um jeito de me transportar pra essa casa tao gostosa, ou melhor, divina maravilhosa, que é a de voces. cheia de amor e inspiraçoes.

    bjo com saudade! adorei o texto!

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  2. Esse texto me fez lembrar de uma grande amiga que adora trocar cartas com as pessoas, mas acha pouca gente disposta a fazer isso. Todo o Natal, não importa onde eu esteja, recebo um cartão muito meigo dela!E eis que um Natal, seguindo seu exemplo, resolvi mandar cartão para todas as pessoas próximas e não vc não imagina quanta alegria isso trouxe para mim!Muito bom parar um tempo do seu dia para pensar em qto alguém foi importante para vc naquele ano!Acho que é tão bom fazer quanto receber um cartão!Espero poder fazer disso um hábito!
    Legal o texto!
    beijos

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  3. Poxa! eu mesma, estou há tempos pra postar no teu blog e dizer que ele é de uma sensibilidade ímpar, por ser a extensão da imagem positiva que tenho da dona. Depois das tuas palavras, só me restam estas palavras pra dizer que a tua coragem em dizer coisas importantes pra alguém, me deixou cheia de disposição pra falar o quanto curto e acompanho o teu blog. E vamos que vamos...

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  4. como já diria na ligação 2632, do dia 07/04/2011: SEU PÚBLICO AGRADECE!

    ;)

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  5. ...é Dayense, liberte esse amor que esta dentro de você , porque metade de você é amor, e a outra também. E os recadinhos inesperados, as folhas de papéis, ainda surpreende mais...
    E eu fia, nem preciso dizer que Bryan divino ja tem um lugar no meu coração, só porque ele te faz tão bem...

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  6. por falar em cartas, lembrei daquelas que vc achou, dos tempos de infância...lembra?
    tenho uma caixa lotada com textos assim...puros e juvenis, de SP a Paris....rs...
    vim aqui bisbilhotar por indicação da Mi (que vergonha...eu que deveria, né?) mas, 'nóix tarda, mas não faia'
    te amo

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uma palavra, bamba?