17 de julho de 2011

free fra fra free

Eu poderia continuar sendo a mesma. Mais uma semana, mais uma segunda-feira qualquer. Sete horas da manhã, café, banho, leitura rápida das manchetes do jornal impresso, bom dia, padeiro, olá, como vai, moça da floricultura. Cotidiano assim e pronto, para todos os outros dias daquela primeira semana de julho. 

Mas de repente, não mais que de repente, atravessam em direção à livraria onde trabalho, no final do meu expediente, estrangeiros e vidas musicais distantes do Atlântico, a banda holandesa Fra Fra Sound. Somos apresentados pela minha amiga. Nos aproximamos, digo, Hi, my name is Dayane e só. Tento, How are you. But... Meu inglês trava. Sem diálogos, não me culpo pela ausência de comunicação. No portuguese, no english, ok ok for us. Era o que tínhamos para ontem.

Terça-feira, depois quarta... quinta-feira... e as barreiras das línguas vão se tornando menores. Vou na apresentação da banda e um susto, a identificação imediata, danço e interajo por aquele som peculiar, universal. As travas se perdem pela linguagem do movimento em torno da música. No english, no portuguese, fuck off. Se você se liberta, você dança, você expressa para o outro, que poderá entendê-lo profundamente.

Estrangeiros estão abertos, sensíveis para as novidades, minha amiga. Sim, em uma semana também virei estrangeira na minha cidade, no meu bairro. Acompanhei a comoção etérea dos artistas que aportaram perto da minha realidade. E o diferente para eles, as pessoas, os costumes, os canais, as ruas, mais o conhecido por mim, Avenida Ana Costa, Bar Torto, Bar Galeria e a Livraria Realejo, juntaram-se num espaço só.

Tudo igual, aqui, e tudo chacoalhado ao longo dos dias, para todos.

Ouvi mais das músicas da banda em mais um show. Depois, fiquei por perto só para ouvir as conversas, das quais não compreendia, mas imaginava porque meu inglês não é tão ruim. Entre uma palavra e outra, entre o vocabulário desconhecido e aquele que ressurgia da minha memória, ganhamos pequenas intimidades.

Então chegou a hora da despedida e me dei conta, mais ainda: ganhei liberdade dentro dos meus dias, dentro da cidade que conheço tão bem e por isso me sufoca tanto. Me permiti ser-estrangeira, me permiti brincar com o idioma alheio, mesmo sem certezas do que estava falando. Vesti um espírito de quem transgride as próprias condições diárias, a mesma praça, o mesmo trajeto, tornando-os distantes, líricos... (dentro de mim, dentro da minha Santos).

O mar já não era só horizonte, a serra não só um caminho de partidas...

Viajei sem passaporte, encontrei novas direções para os próximos meses.

Thanks, Fra Fra Sound. Saudades!