26 de julho de 2012

o nó do laço de fita


Todo dia eu lembrava. Lembrava das saudades. Porém, como julgamos ser melhor não falar, pensar e enfrentar, sempre lembrava que não deveria... testemunhar tamanho desamparo. E não sentir mais era um alívio. Porque eu fingia que você realmente não existia, mesmo quando eu pressentia sua ausência. Você não estava presente, eu não lembrava que sentia sua falta e a ciranda das aflições não forjadas pouco prevalecia. Eu lembrava todo dia, e esquecia logo em seguida, como quem deixa a senha bancária na última gaveta da cômoda, só acessada perante emergências (do esquecimento). Então vinha a urgência do consolo, amá-lo era um silêncio bom e calmo ao meu ventre solitário em dias mornos. Depois, já chegavam as noites de verão em boates lotadas, e eu não lembrava se amava-o ou me chocava na verdade com vaidades. Afinal, gostar é trazer em si a vaidade de ter no outro algum respaldo para as nossas poucas soluções caseiras para o som de vinil e vinho tinto que são um par perfeito para dois (o clichê dos clichês). Um desalento em aconchego. E você era o ponto final daquilo que pensei nunca mais achar, quando permiti jogar-me do décimo quinto andar. Pois, não existe meia queda no amor, tem um pulo do auge da vontade de se fazer outro/ a, com o auxílio de um pássaro faminto em pleno voo.

Assim, nenhuma convicção resguardou qualquer garantia pelo fim próximo, os rastros  por onde passamos guardam demarcações em modos poucos ortodoxos para voltarmos ao chão. Tem volta?

(...)

Para a greve das saudades ficamos sem acordos, permanecemos assegurados por uma ingrata inaptidão ao diálogo da paixão. 

(...)

Sobram lembranças.


19 de julho de 2012

santos-salvador

Vou voltar para o meu sertão


Entendo de vôos. E para isso abandonei as velhas manias de somente planar nessas ruas daqui. 


Estava cansada de amar no outono, recolher fragmentos de ilusões no inverno e só acordar no verão de dezembro. Não sou feita de estações, embora a primavera ainda seja o cartão-postal de minha euforia. Voa-se muito quando as flores realmente são flores, coloridas, plumosas, ousadas. Os acasalamentos são perfeitos assim. Procria-se, sexualiza-se o movimento, coreografias instintivas. Não existem lacunas sem desejos. 


Ainda é inverno em SP? Hoje não sei. O telhado em frente à minha janela está totalmente solar. 


Fique claro, um setembro primaveril ainda está distante, mas meu voo já está marcado. 


A Bahia é logo ali.