16 de abril de 2012

eu, música

                                                                                                                                              Em uma hora não determinada, forjam-se Maria e Eduardo, Sebastião e Tiago, Italo e Monique, Maria e Suzana, todos se trombaram em alguma estação, de rádio FM, ou de trem, e lá havia uma música, só deles, só eles ouviram, pois, só eles guardarão na lembrança dos gestos inéditos a melodia do casal, feita na sintonia sem embaraços, desenhada na partitura construída a partir de então.



8 de abril de 2012

eu, não


Todos perguntam se eu vivi tudo. Tudinho? Nada, não teria tempo para isso, baby. Escrevo em eu's inventados, depois de percorrer avenidas íntimas ou alguma praia habitável. Aprendi que não deveria abusar dos adjetivos. Uma pena, professor! Adjetivos são a parte doce da língua. Só causam diabetes em última instância. I'm so sorry, but... ABUSAREI das adjetivações até segunda ordem, ou seja, até outra estética textual chegar e me levar para outras ideias, sensações e construções literárias. 

Escrevo para não morrer de embolia, para comprar um pão fresquinho de manhã e saber comê-lo e para esquecer as vidas deixadas nas frestas ou vãos dos desencontros. Já me desencontrei de você hoje? Não conheço os meus vizinhos. Eles só aparecem quando batem a porta atrás de si, para apagarem-se em seus cotidianos espalhados em tapetes simétricos à cor da geladeira. Nunca enfrentamos o mesmo corredor - será que nos apaixonaríamos? Teríamos filhos? Ou te odiaria como quem rasga a diplomacia e política da boa vizinhança? Não vejo o seu rosto, stranger. Os seus horários não combinam com os meus. Falta sincronicidade. Sintonia. O raio que o parta. Ou algo assim. 

Porém, não se dê ao luxo por não vê-lo, caríssimo(a). Tanto que eu escolhi não ver mais.

*

Escolhi esquecer aquele adeus, quando o fulano ou beltrano resolveu sair e não se despedir das roupas jogadas no banheiro e das louças empilhadas do último jantar. Fui embora também naquele dia. E vou embora mais um milhão de vezes, enquanto o ponto-e-vírgula  for  maior e as permissões se ocultarem. 

*

Você PERMITE-SE viver, leitor?

Você já olhou a cor dos olhos do seu vizinho? 

*

É domingo aqui. Sinto um cheiro de frango com batatas, haverá um almoço de família no 203? Acho que o meu vizinho está com visitas em casa, ouço crianças extra-habituais correndo em cima da minha cabeça. Dia dos encontros forjados? Eu não sei me fantasiar de filha, neta, prima. E fico matutando como seria a persona de todas elas. E de tais papéis sociais vão se construindo imagens, personagens, vidas para além de nós. Então adjetivos são criados, juntos com palavras substanciadas por sentimentos orgânicos.  Em resumo, cumpro a minha sentença com todos os meus eu's. Das ausências, dos desencontros, excomungo-me. E enraízo outra esquina, porque as quinas nas ruas são pontos comuns (mas pouco ocupados) - VOCÊ estará lá, me espera?

*

Eu não sei me desencontrar, sei mentir e inventar. A minha escrita é sua? A gente pode sair por aí mais tarde. Todos os cafés, praças públicas ou botecos poderão nos receber. Chegue mais. Avizinhe-se. EU estarei lá, ou não, my dear.


*


Para ouvir lendo. Experimenta!

Sheila Take a Bow

Is it wrong to want to live on your own?
No, it's not wrong - but I must know
How can someone so young
Sing words so sad?

Sheila take a, Sheila take a bow
Boot the grime of this world in the crotch, dear
And don't go home tonight
Come out and find the one that you love
and who loves you
The one that you love and who loves you

Is it wrong not to always be glad?
No, it's not wrong - but I must add
How can someone so young
Sing words so sad?

Sheila take a, Sheila take a bow
Boot the grime of this world in the crotch, dear
And don't go home tonight
Come out and find the one that you love
and who loves you
The one that you love and who loves you

Take my hand and off we stride
You're a girl and I'm a boy
Take my hand and off we stride
I'm a girl and you're a boy

Sheila take a, Sheila take a bow
Throw your homework onto the fire
Come out and find the one that you love
Come out and find the one you love

3 de abril de 2012

nossa bicicleta oceânica

releitura do texto:



Para Noelle e Pietro


                               Um casal e suas bicicletas. Uma praia.
                                                    E um registro cinematográfico.

Márcio, olho adiante e deixo a maresia, esse vento praiano, as cores do mar ao fundo nos espiando. Somos protagonistas deste seu filme, olha lá, as crianças brincam e correm de um lado para o outro. 
Outros namorados caminham soltos, mas agora somente seus olhos registram este capítulo dos encontros amorosos da humanidade inteira.
Somos um trecho de tantas histórias que já existiram, acontece em nós, e surgirá para outros casais.
O amor não para, ele não espera. 
Dentro de nosso passeio de horas vivas e que se alargam a cada segundo a frente, num progresso calmo, de onde você me vê, e porque me vê, sim, percebe meus cabelos despenteados, e meu rosto tão seu, bonito para os seus olhos, assim, Márcio, vou sendo vista por você para sempre neste filme, para todas as gerações futuras que procurarão alguma verdade na nossa união, no nosso pacto destas horas eternas.