29 de junho de 2012

dos excessos


O ir e vir vertical é de extremo desespero. Tenho abusado deste processo osmótico ao me magnetizar  por campos de emoções pueris, clandestinas, importadas no momento máximo da desilusão. Então deixo escorrer através dos meus dedos qualquer segurança - controle hedonista. Apoio os pés num método ausente de rigor para ganhar descompostura. 


Turva, quase voo.


Encontrei para isso algumas táticas de sobrevivência: boias flutuantes para não afundar, quando preciso subdividir os desejos até que se tornem constelações desconhecidas.


Assim, navego.


Desejos não cartografados ou  não contemplados em experiências reais sempre correm o risco de se perderem nos bastidores. Por isso, antes do ápice estelar, filtro as sensações emolduradas ainda na prévia da não-ilusão, de poder ser ainda um momento de plena emoção, a mesma do otimismo dos utopistas.


Sigo.


E tal desarmonia tem uma cor, vermelha. Não, o vermelho do batom-cereja, usado para convidá-los, rapazes, à sedução pela intimidade labial; não é o vermelho que aborrece o concreto do Morro do Chapéu, quando Elias ou Ivan ganharam duas balas perdidas num acerto de contas entre Fininho e Josias do Beco; não é o mesmo do choro no aborto programado de Sara ou Jussara, na sala improvisada para cirurgias sem acompanhamento médico regular no centro velho de SP; e tampouco o vermelho escarlate da bolsa da Maria C, que passou a cobrar 200 contos por duas horas de práticas sexuais. O vermelho aqui é epitelial. 


Vago.


A minha pele denuncia a matiz avermelhada de tanta desordem, está tomada pela alergia de silenciar os gritos miúdos da inconformidade com cheiro de azedume. Entre pelos e engenhos subcutâneos, guardo poucas soluções para harmonizar tais conflitos íntimos. São táticas sangrentas, entre veias e poros, para continuar sobrevivendo à dúvida do por vir e do vir a ser. 


Sem sonho.


Um comentário:

  1. Caraco!!!! :) Muito bom... Adorei as imagens... Adorei as imagens, a construção. O vermelho epitelial. Ta aí, o seu outro texto que eu reclamei soou negro lustroso, esse não, é epitelial. Foda.

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uma palavra, bamba?