Temo não ser a exceção.
Excedo os meus modos patéticos quando ninguém vê.
Dou risada sozinha para os transeuntes não espantarem o meu susto narcísico da alegria de ser só mais um na multidão.
Enxergo mal os rostos cansados do ônibus abarrotado.
Meus óculos escuros emburrecem a retina sincera do meu olhar.
Guardo segredos de liquidificador para um caos atmosférico que desanda o meu equilíbrio de bailarina desatinada.
E, assim, não lembro quando não fiz mais concessões. E retiro da bolsa um cartão amarelo para aqueles que sabem fazer um pedido bem feito. Então, concedo... sem um não! Ofereço a minha bondade abusada e construo uma culpa vã, pela caridade exagerada.
Olho para trás e tenho a impressão de ter perdido tempo quando não era para ter juízo.
E se, hoje tenho a razão, quero dar-lhe todo o impulso possível... para caminhar na corda bamba da emoção do tato no estalo da dor de ser unicamente parte de todo mundo.
Eu sou um milhão em mim, de um milhão de gente que vive e ama e sua e ri... como já disse algum poeta.
Eu não sou o outro. Sou eu mesma. Mas, confundo o meu querer com o seu desejo e já não sei mais quem sou... perco o meu critério e me desrespeito. Respeito o querer alheio e desajeito o meu próprio conselho de amar a mim, antes de tudo. Pois, não sou capaz de rezar a minha cartilha e acabo pregando pela religião do próximo.
Estúpida, não?!
Porque ainda não sei o meu destino, embora, a campainha moralista da minha identidade oca toque e lembre a hora de ser mulher, profissional, cidadã, filha, amiga e algo muito maior que nunca serei... o meu verdadeiro Eu, com conotação estética vivaz e primária de mim mesma, só aberta para obras do outro, ou seja, sempre com alguma concessão.