4 de junho de 2012

ainda há algum tempo

Às vezes, a despedida chega antes da partida

5 horas da manhã. Passou dos lados opostos da cama, sem você notar o quê os entrecortava. De um lado, curvou-se o mais que pode - e quis acordar antes do despertador. Do outro, tentou um abraço seu, mas você não a tocou, nem a protegeu. Ficou ali, encolhida ou suspensa pela espera de vestir-se de outro dia, outras 24horas, outras demandas, mais um passo adiante e muitas tentativas por um aceno distante.

As noites de inverno sempre demoram mais para acabar. São como relógios de parede, enguiçados, em salas de casarões coloniais. Amplas e desabitadas. Sem conforto algum, sentia-se um ponteiro burro, domesticada pela finitude daqueles lençóis dispersos, eram as margens de um rio, os limites do casal.

Então levantaria a qualquer momento, embora buscasse o momento ideal, embora esperasse o espartano som, às 5h45.

(...)

O seu ronco emanava os descompassos territorializados pelas dúvidas e lembranças, pelas conversas que tantas vezes avizinhavam o sono, mas perderam de modo súbito a possibilidade de continuar existir.

Tornaram-se amantes plastificados pela total falta de proximidade atual?

(...)

As chaves ainda estavam do lado de dentro da porta, aguardavam algumas reviravoltas. Seriam cúmplices da  fuga. Já estava tudo armado.

Você sabia.

(...)

Entre levantar-se da cama e ir, não há narração possível. Nestes minutos, desapegou-se do chão, partiu-se em mil caquinhos, pensamentos soltos e nenhuma atenção para o trivial.

(...)

E saiu, não pela última vez, mas até não conseguir voltar nunca mais. Só não sabiam quando. Amanhã, ou depois e depois.

Um comentário:

uma palavra, bamba?