21 de julho de 2010

dedicatória

Minha querida,

Este livro é exatamente como a percebo. Nem mais, nem menos. Porque acho que se você fosse cores, seria cores de Frida Kahlo.

Você foi uma das pessoas mais importantes que passou na minha vida no último ano. Para repetir uma frase usada por você, de alguma forma seríamos amigas, pois, nossos amigos em comum permitiriam isto. Da Maricota até a Mari, de algum jeito, cruzaríamos o caminho uma da outra.

Assim, guardo os encontros mais sublimes aos mais profundos da nossa rápida mas, bela amizade. Recordo as nossas dancinhas para cantar "Mesmo que mude" do "Bidê ou balde", em passos alegres e graciosos, juntos à gargalhadas para lá de felizes. E lembro também de momentos mais irrequietos, numa fase mais deprê sua, quando eu lia trechos de Clarice Lispector, regado por café e silenciosa dor (na varanda da casa da sua mãe), enquanto procurávamos entender de onde vem o sofrimento - o meu, o seu e o do mundo.

Até que chegou o dia da sua partida, em tom de cinza melancólico.

Então, já sinto muito a sua falta.

Até breve.

No aguardo por outras cores!

Sua amiga caiçara,
Day

P.S.: Esta mensagem era para ter sido escrita no livro "Diego e Frida" de J. M. G. Le Clézio, como dedicatória para uma pessoa muito especial para mim. Porém, entreguei o livro e as palavras ficaram num rascunho. Agora, deixo aqui para não esquecer o carinho e a dedicação que, em pouco mais de um ano, tivemos uma pela outra.

14 de julho de 2010

extremos

Lá. Do lado de lá.

Tem gente. Tem dor. Tem um senão.
Tem você. Não tem ninguém. Tem alguém.

Aqui. Assim.

Tenho um segredo esquecido.
Tenho prosa.
Tenho sentidos apurados.
Tenho rimado pouco, enfim.

5 de julho de 2010

nunca é nunca mais

Algumas datas deveriam ser aniquiladas do nosso calendário emocional. Ter que conviver com alguns dias do ano é um sacrilégio. E não adianta usar de artimanhas para esquecer. Um porre ou mudar o horário dos afazeres daquele dia só para não lembrar é a certeza do não esquecimento. Quem se esconde de uma data triste sabe do que estou falando.

Lembrar e esquecer viram uma coisa só. Esquecemos para não lembrar e lembramos com medo de apagar da memória e a lembrança virar só passado. Porque quando esquecemos viramos a página, mas, se isto não ocorre, é porque ainda lembramos o quanto foi importante e não dá para esquecer mesmo.

Por isso, nunca esqueço quando me despedi do meu amigo imaginário, por volta dos meus seis anos de idade. Lembro que ele morava em frente à janela do quarto dos meus pais, onde ficava o ar-condicionado do vizinho, no prédio da frente onde morávamos - (leitor, era amigo imaginário, não tente entender o cenário). A lembrança era de ser uma ótima companhia para os meus devaneios. Coisas da minha imaginação infantil; portanto, pouco literal. Porém, numa tarde, lembro que foi preciso despedirmo-nos. Ele precisava ir embora. E foi. E aí, comecei a entender a saudade.

Depois, outras perdas aconteceram, partindo disto a minha formação cheia de vazios datados, que são como intervalos momentâneos entre uma crença para uma descrença, frutos das modificações que passamos ao longo da vida, pontes para outras descobertas.

Assim, já acenei adeus para muita gente.

Já me despedi de sonhos, já chorei pela morte de uma ilusão.

Nunca esqueço.

Sempre lembro.

E sem muitas medidas de entendimento, fico com a impressão de sermos os números de partidas e despedidas, acontecimentos presentes quando menos se imagina.