5 de julho de 2010

nunca é nunca mais

Algumas datas deveriam ser aniquiladas do nosso calendário emocional. Ter que conviver com alguns dias do ano é um sacrilégio. E não adianta usar de artimanhas para esquecer. Um porre ou mudar o horário dos afazeres daquele dia só para não lembrar é a certeza do não esquecimento. Quem se esconde de uma data triste sabe do que estou falando.

Lembrar e esquecer viram uma coisa só. Esquecemos para não lembrar e lembramos com medo de apagar da memória e a lembrança virar só passado. Porque quando esquecemos viramos a página, mas, se isto não ocorre, é porque ainda lembramos o quanto foi importante e não dá para esquecer mesmo.

Por isso, nunca esqueço quando me despedi do meu amigo imaginário, por volta dos meus seis anos de idade. Lembro que ele morava em frente à janela do quarto dos meus pais, onde ficava o ar-condicionado do vizinho, no prédio da frente onde morávamos - (leitor, era amigo imaginário, não tente entender o cenário). A lembrança era de ser uma ótima companhia para os meus devaneios. Coisas da minha imaginação infantil; portanto, pouco literal. Porém, numa tarde, lembro que foi preciso despedirmo-nos. Ele precisava ir embora. E foi. E aí, comecei a entender a saudade.

Depois, outras perdas aconteceram, partindo disto a minha formação cheia de vazios datados, que são como intervalos momentâneos entre uma crença para uma descrença, frutos das modificações que passamos ao longo da vida, pontes para outras descobertas.

Assim, já acenei adeus para muita gente.

Já me despedi de sonhos, já chorei pela morte de uma ilusão.

Nunca esqueço.

Sempre lembro.

E sem muitas medidas de entendimento, fico com a impressão de sermos os números de partidas e despedidas, acontecimentos presentes quando menos se imagina.

6 comentários:

  1. Ok, não li todos os seus escritos, mas dos que já acompanhei por aqui, esse é o que melhor une singeleza e boniteza no mesmo texto. Gostei muito, moçoila.
    Beijo grande

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  2. "é a vida num segundo
    é andar e ver pessoas
    é o momento do fim de tudo
    e o início de todas as coisas" - jue

    essas pequenas ou grandes despedidas que nunca vão deixar de existir mas nos trazem a chance de viver outras milhares de maravilhosas, doces e indispensáveis dores!

    bjos, lady!

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  3. Amei, amiga. Me identifico! Te amo!

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  4. Lindo. Me lembrou de:

    Mario Quintana
    DO AMOROSO ESQUECIMENTO
    Eu, agora - que desfecho!
    Já nem penso mais em ti...
    Mas será que nunca deixo
    De lembrar que te esqueci?

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  5. Day,
    Lindo, lindo!!!!
    Uma das suas mais belas escritas. Senti, me identifiquei e me emocionei.
    Parabéns!
    Beijo

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  6. Lembro da música da Elis..."A hora do encontro é também despedida. A plataforma dessa estação é a vida". E é assim mesmo né?!Nos despedimos a todo o momento, mas isso pode ser bom. Como lembrava a raposa quando se despedia do pequeno príncipe, ela sairia ganhando por causa da cor do trigo. Agora o amarelo outro do trigo, até então sem nenhum valor para ela, lembraria os cabelos dourados do amigo. E quanta coisa a gente sai ganhando quando nos despedimos das pessoas, quantas lembranças guardamos!

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uma palavra, bamba?