14 de setembro de 2011

sem entrelinhas

Frente da cinemateca francesa - por Bryan Faustino
Palavras são bambas. 
São carniceiras ou mães possessivas.
Palavras não têm cor.
Estão livres de cotas.
Palavras escapam da lama dos mendigos.
Palavras vivem em bordéis e sacristias.
Nunca estão sozinhas.
Vendem a vida por outra palavra.
Palavras não saem pela culatra. 
Têm passado e futuro.
Palavras carregam fome.
São aprendizes de outras palavras.

Palavras se aborrecem.
São polidas, se bem atendidas.
Não têm identidade, nem raízes únicas.
Brotam do soluço dos loucos.
Palavras não têm ideologia.
Palavras ficam firmes, quando empacotadas em bibliotecas.
Não reclamam salários, nem pensão ou fundo de garantia.
Mas palavras não se adaptam.
Perdem a compostura.
Palavras dançam.

Todas as minhas palavras estão aqui
de trás pra frente
de lado,
esquerda,
direita,
para você me enxergar -
nua.


*Post escrito depois de assistir o curta-metragem A janela poética, e ouvir a diretora no debate, após a sessão do filme, perguntar para a plateia: por que você se entrega?; e lembrar as janelas das quais já me debrucei e todas aquelas espelhadas nos meus desejos, que não cessam a busca por outros saltos e novas entregas...

Um comentário:

  1. Acho que poderia explorar mais o "bamba". É muito boa essa imagem. As palavras são tudo que isso que vc disse que não são, mas ao mesmo tempo se esquivam, podem ser tudo outra coisa, sem precisar vestir-se de nada.

    Adoro sempre poemas metalinguisticos. To dando uma nova explorada no blog e to adorando. Beijo.

    ResponderExcluir

uma palavra, bamba?