'eu faço samba e amor até mais tarde'
(Chico Buarque)
A chaleira vermelha dava pequenos estalos. Eu preparava nosso primeiro café da manhã. Pão de sal ou cuscuz, você não sabia escolher. Enquanto a água esfumaçava a tampa de vidro do fogão, dizendo que o pó de café poderia ser coado, olhei para você e você sorriu - sentado em pouso na entrada da cozinha. Três segundos depois disse que queria mesmo pão. E a chaleira fazia o grito das primeiras horas de todas as manhãs, senão vibrasse esta tão concatenada, derramando-se pela familiaridade ao redor. E você sorriu pela terceira vez. E eu já não sabia se sorria de mim ou para mim, se queria mesmo pão com café ou leite e cuscuz. Então continuou a me espiar, a fotografar os meus gestos enquanto eu levava a água fervente até o coador branco - observava para saber se me concentrava mesmo para além de nós? Entre os minúsculos grãos de café se liquefazendo e a vontade de desistir do desjejum, fui buscando aquilo que nos trouxe até aqui. Era o quê? A praia, o samba ou as leituras no sarau no Pelourinho? Foram tantas cervejas e acarajés antes de você estar na cozinha de casa, foram flertes pouco encorajados e piadas 'bonitinhas' pela espontaneidade de me ver falar coisas pouco embaraçosas, porque eu tinha medo de mentir. O aroma cafeinado se instalava no reajunte dos azulejos, então você veio sorrateiramente, com menos risos, puxou um abraço, sem sugerir, indicou que poderíamos ir para o quarto e deitar mais alguma melodia outra vez.
O café ficaria para depois.
O café ficaria para depois.
Deu vontade mesmo, rs. E me lembrou um trechinho lindo do Cortázar "... o oco do dia começaria a se encher de café" bj querida
ResponderExcluirLindo, Day... lindo...
ResponderExcluireu tb faço samba e amor até mais tarde..
q delicia de momento!
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