25 de setembro de 2011

puento ciego (III)

Olhou para mim com olhos de cereja. Não titubeou em nenhum segundo. E continuou a me olhar, como quem ganha um presente surpresa. Não entendia se olhava mesmo. Mas olhava.
E logo uma avenida nos alargava. 
O seu olhar fixou-se, preso no meu varal de desejos imunes. 
Então passei a sentar na mesma cadeira do restaurante da Araújo Medeiros, nas mesas da calçada, onde nos percebemos pela primeira e única vez. 
Nos outros dias, aguardava ansiosa sua passagem por ali, enquanto almoçava. 
Queria pedir informações suas. Será que alguém por ali saberia da sua rotina?
Passei a pensar num anúncio no jornal da cidade. 
Nenhuma informação precisa.
Somente aquele olhar delicado como seus passos, que ficaram para trás. Porque não tive a sua rapidez, para responder e mostrar-me nos meus olhos.

3 comentários:

  1. às vezes a gente esquece tudo, para o mundo.
    bravo! rs

    ResponderExcluir
  2. E esse texto me lembra A passante, do Baudelaire.

    ResponderExcluir
  3. gosto muito da palavra "avenida" rs...

    Não teve a rapidez de responder, mas teve a lentidão necessária para eternizar o olhar.

    Perfeito o texto.

    ResponderExcluir

uma palavra, bamba?