Não ter uma inspiração pronta prejudica o sucesso do texto. Nestes tempos de tantas mudanças, tentar poetizar tem sido difícil. Além disso, ando muito careta, sem vida boêmia, sem cigarros, ando apagada pela falta do último trago, da falta da lua antes de amanhecer. Muito pelo contrário, agora bebo chá para dormir e vou para cama depois da novela das oito. Mas escrever é fingir, viu. Por isso, ando querendo fingir tudinho, o amor, o gozo e a dor. Posso? Ah, caro inspetor dos sentimentos alheios, você que parece saber de tudo, você que recrimina a doçura, me deixe em paz, porque quero guardar o meu soluço esperançoso numa prosa ou num conto, sem a sua censura. Afinal, ainda sonho com uma vida menos patética, menos ácida. Não diga aquilo que devo pensar ou sentir, sua política não cabe em mim, pois sua rebeldia não me assusta. Dá para respirar romances e atuar na desorganização do crime armado, tudo ao mesmo tempo. A linguagem literária rasga e destroça gente imbecilizada, já tentou desta maneira? Poesia nunca foi resultado de ignorância da fome. Um poema pode segurar o suplício de uma nação inteira ou ser um tiro no pé do fulano desatento com a sua condição.
Isso aqui é só uma nota, no próximo post trabalho melhor as ideias, mesmo se não tiver inspiração suficiente.
Isso aqui é só uma nota, no próximo post trabalho melhor as ideias, mesmo se não tiver inspiração suficiente.
preciso voltar pro brasil.
ResponderExcluiruau.sem palavras.
ResponderExcluirDemais, Day,,, mas volto para um outro comentàrio, porque vc me pos a pensar. Estamos juntas nessa.
ResponderExcluirSabe que eu gostei do texto! Mas ainda não sei por quê.
ResponderExcluirMais perto
ResponderExcluirMais e mais perto
Mais perto ainda
Pronto.
Agora inspire profunda
E continuadamente
O mais lento que puder.
Caminhe
Até que possa cruzar as correntes
Que simulam palavras
O poema não está aqui
Continue caminhando e inspirando
Até que possa ver a pedra
A pedra.
Mais perto, não tenha receio,
Achegue-se
Até que possa crer que a pedra
É na verdade um espelho
Do que acimenta em ti
O espelho.
Aproxime-se dele
Mais e mais perto
Até que possa ver
Que na verdade ele é liquefeito
Isso. Sem receio, adentre um pé
Depois o outro,
Até que consiga imergir-se completamente
Não antes que se certifique de que as correntes
Sumiram no horizonte
E teu norte agora é a correnteza
Que se enuncia
Leve
Correnteza.
Sinta-a erraticamente
E depois, mergulhe.
Tente aproximar-se do solo
Não solte ainda o ar
Você precisa mais e mais dele agora.
Experimente abrir os olhos
E perceber todo o tecido marinho
Parece haver algo escrito no solo
Luzindo
Persiga a sentença
Tente decifrá-la
Parece seu nome
Tem coisas que se intrometem
Poeticamente
Outras que se metem
A parecer singelas palavras
Mesmo que não identifiquemos qualquer letra
Palavras quaisquer
De arquiteturas defletidas
Me parece um cardume, algas e pedras
Poderia ser outra coisa,
Poderia ser o solo, você pensa,
Mas tenho que te dizer que não há solo
Mas continue
Até que a escuridão e o frio
Desencante completamente teus olhos e ossos
Assim, feche-os e expire de uma vez
Esqueça da água, de tudo
Seu corpo voltará imediatamente para detrás das correntes
As correntes
que encerram o terreno baldio
Do teu incompreendimento.