18 de janeiro de 2012

nota sobre a falta de inspiração

Não ter uma inspiração pronta prejudica o sucesso do texto. Nestes tempos de tantas mudanças, tentar poetizar   tem sido difícil. Além disso, ando muito careta, sem vida boêmia, sem cigarros, ando apagada pela falta do último trago, da falta da lua antes de amanhecer. Muito pelo contrário, agora bebo chá para dormir e vou para cama depois da novela das oito. Mas escrever é fingir, viu. Por isso, ando querendo fingir tudinho, o amor, o gozo e a dor. Posso? Ah, caro inspetor dos sentimentos alheios, você que parece saber de tudo, você que recrimina a doçura, me deixe em paz, porque quero guardar o meu soluço esperançoso numa prosa ou num conto, sem a sua censura. Afinal, ainda sonho com uma vida menos patética, menos ácida. Não diga aquilo que devo pensar ou sentir, sua política não cabe em mim, pois sua rebeldia não me assusta. Dá para respirar romances e atuar na desorganização do crime armado, tudo ao mesmo tempo. A linguagem literária rasga e destroça gente imbecilizada, já tentou desta maneira? Poesia nunca foi resultado de ignorância da fome. Um poema pode segurar o suplício de uma nação inteira ou ser um tiro no pé do fulano desatento com a sua condição.

Isso aqui é só uma nota, no próximo post trabalho melhor as ideias, mesmo se não tiver inspiração suficiente.

5 comentários:

  1. Demais, Day,,, mas volto para um outro comentàrio, porque vc me pos a pensar. Estamos juntas nessa.

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  2. Sabe que eu gostei do texto! Mas ainda não sei por quê.

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  3. Mais perto
    Mais e mais perto
    Mais perto ainda
    Pronto.
    Agora inspire profunda
    E continuadamente
    O mais lento que puder.
    Caminhe
    Até que possa cruzar as correntes
    Que simulam palavras
    O poema não está aqui
    Continue caminhando e inspirando
    Até que possa ver a pedra
    A pedra.
    Mais perto, não tenha receio,
    Achegue-se
    Até que possa crer que a pedra
    É na verdade um espelho
    Do que acimenta em ti
    O espelho.
    Aproxime-se dele
    Mais e mais perto
    Até que possa ver
    Que na verdade ele é liquefeito
    Isso. Sem receio, adentre um pé
    Depois o outro,
    Até que consiga imergir-se completamente
    Não antes que se certifique de que as correntes
    Sumiram no horizonte
    E teu norte agora é a correnteza
    Que se enuncia
    Leve
    Correnteza.
    Sinta-a erraticamente
    E depois, mergulhe.
    Tente aproximar-se do solo
    Não solte ainda o ar
    Você precisa mais e mais dele agora.
    Experimente abrir os olhos
    E perceber todo o tecido marinho
    Parece haver algo escrito no solo
    Luzindo
    Persiga a sentença
    Tente decifrá-la
    Parece seu nome
    Tem coisas que se intrometem
    Poeticamente
    Outras que se metem
    A parecer singelas palavras
    Mesmo que não identifiquemos qualquer letra
    Palavras quaisquer
    De arquiteturas defletidas
    Me parece um cardume, algas e pedras
    Poderia ser outra coisa,
    Poderia ser o solo, você pensa,
    Mas tenho que te dizer que não há solo
    Mas continue
    Até que a escuridão e o frio
    Desencante completamente teus olhos e ossos
    Assim, feche-os e expire de uma vez
    Esqueça da água, de tudo
    Seu corpo voltará imediatamente para detrás das correntes
    As correntes
    que encerram o terreno baldio
    Do teu incompreendimento.

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uma palavra, bamba?